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Narcisismo na obra de Lou Salomé8/22/2024 Introdução:
Lou Andreas-Salomé, uma figura ilustre no movimento psicanalítico inicial e contemporânea de Sigmund Freud, trilhou um caminho distinto no estudo da mente humana, entrelaçando as disciplinas da psicanálise, filosofia e literatura. Em uma era em que o pensamento psicanalítico estava florescendo, mas predominantemente moldado por perspectivas masculinas, o trabalho de Salomé destacou-se pela sua profundidade e originalidade. Sua abordagem sobre narcisismo marcou uma ruptura com as teorias de Freud sobre o assunto, oferecendo uma interpretação rica e multifacetada. Profundamente interessada nos temas do amor e do amor-próprio, Salomé embarcou em uma extensa exploração do narcisismo. Sua perspectiva era marcada por uma introspecção e um foco no eu, fornecendo um contraste marcante com a visão mais externa de Freud. Os insights de Salomé sobre o narcisismo foram ainda moldados por suas investigações em psicologia e filosofia, especialmente em relação ao narcisismo feminino e à sexualidade. Movida por uma busca pelo autoconhecimento e uma compreensão da inter-relação entre cognição e sexualidade, sua abordagem transcende os limites tradicionais da psicanálise. Essa exploração a levou a abordar as implicações mais amplas do narcisismo, expandindo seu escopo para além dos limites estabelecidos pela psicanálise. Além disso, as contribuições de Salomé para a compreensão do narcisismo foram reconhecidas e respeitadas dentro dos círculos psicanalíticos, graças não apenas às suas interações com intelectuais europeus notáveis, mas também aos seus profundos escritos. Ela criou imagens da “nova mulher”, que transcendia os prazeres carnais em busca de uma existência mais espiritual e procurava redefinir a sexualidade além das restrições das expectativas matrimoniais tradicionais. As Bases Filosóficas do Narcisismo: No cerne da filosofia de Salomé está sua nova interpretação do mito de Narciso. Divergindo da ênfase de Freud nos aspectos libidinais da autoimagem e no foco interno da energia sexual, Salomé via Narciso não apenas como uma figura de auto-admiração, mas como simbolizando a unidade do eu com a natureza. Em sua visão, Narciso, ao olhar para o “espelho da natureza”, via não apenas seu reflexo, mas “ele mesmo como tudo”. Essa perspectiva oferece uma compreensão mais abrangente do narcisismo, sugerindo que ele envolve mais do que auto-absorção — enfatiza uma relação harmoniosa entre o eu e o mundo exterior. Ela afirmou: “Uma mulher preserva seu narcisismo, enquanto um homem o perde e sempre sente nostalgia por ele” (Salomé, 1921). Essa distinção aponta para uma variação fundamental em como homens e mulheres experimentam e sustentam suas tendências narcisistas. Segundo Salomé, o narcisismo feminino é uma forma de autopreservação, uma característica vital que permite às mulheres manterem seu senso de identidade em meio às restrições sociais. Por outro lado, os homens tendem a perder esse aspecto de sua psique, experimentando um sentimento de incompletude por seu narcisismo perdido. Salomé examinou a expansão da libido narcisista em relação aos objetos externos. Ela propôs que o narcisismo não envolve apenas um foco no eu, mas também um engajamento dinâmico com o mundo exterior. Em sua visão, esse processo envolve o indivíduo interagindo com, capturando e incorporando objetos externos como parte integral de sua expressão narcisista. Essa perspectiva desafia as noções tradicionais de narcisismo como introspectivo e isolado, retratando-o como uma força ativa e expansiva. Ela argumenta que a autorreflexão e a autoconsciência emblemáticas do narcisismo não são meramente atos de auto-admiração ou egocentrismo. Ao contrário, representam um mergulho profundo nas experiências pessoais, emoções e pensamentos, que se tornam a fonte da expressão criativa. Essa exploração interior permite que artistas e pensadores acessem seu subconsciente, permitindo-lhes articular ideias e emoções complexas que ressoam em um nível universal. Apesar da natureza aparentemente solitária desse processo introspectivo, é através dessa jornada que os criadores podem forjar conexões com os outros. Salomé reconhecia a necessidade de um equilíbrio no processo criativo entre introspecção e abertura ao mundo exterior. Enquanto as tendências narcisistas alimentam a jornada criativa interna, ela reconhecia a importância de o artista ou intelectual permanecer receptivo a estímulos e influências externas. Esse equilíbrio garante que seu trabalho não seja apenas um reflexo de si mesmo, mas também uma resposta significativa ao mundo ao seu redor, ampliando sua relevância e impacto. Narcisismo nos relacionamentos: Ela observou que o narcisismo de um indivíduo pode ser uma atração poderosa para aqueles que, em sua própria busca por amor, renunciaram a parte de seu próprio narcisismo. Essa dinâmica sugere que, em relacionamentos, os traços narcisistas em uma pessoa podem satisfazer e ressoar com as necessidades emocionais e psicológicas de outra. Salomé comparou essa atração ao encanto de uma criança ou de certos animais, como gatos ou grandes predadores, cuja autossuficiência e inacessibilidade são cativantes. Salomé propôs que o amor, em essência, não deve ser visto como uma dissolução no outro, mas sim como um aprimoramento de si mesmo. Essa perspectiva desafia a noção de Freud de narcisismo secundário, que envolve uma regressão ao narcisismo primário e um desligamento do objeto amado. Em vez disso, Salomé via o narcisismo como conectado e expresso através dos relacionamentos. Salomé explorou o conceito do “ideal do eu” nas relações, particularmente no contexto do arquétipo da femme fatale. Ela sugeriu que o fascínio da femme fatale reside em sua encarnação de um ideal poderoso e inalcançável, refletindo dinâmicas complexas de admiração, desejo e narcisismo dentro da atração romântica. Perspectiva atual: O trabalho de Salomé sobre o narcisismo, particularmente suas opiniões sobre o narcisismo feminino e sua relação com a criatividade e os relacionamentos, tem sido reconhecido por sua abordagem inovadora. Sua exploração da natureza protetora e expansiva do narcisismo feminino ofereceu uma contranarrativa às percepções tradicionalmente negativas do conceito. Essa perspectiva contribuiu significativamente para a compreensão dos processos psicológicos específicos de gênero e influenciou discussões contemporâneas no campo. A evolução da recepção do trabalho de Lou Andreas-Salomé reflete uma mudança mais ampla no cenário intelectual, onde suas contribuições foram reavaliadas e reconhecidas por sua originalidade e perspicácia. Seus escritos, antes vistos como auxiliares aos trabalhos de seus colegas homens, agora são considerados contribuições significativas nos campos da psicanálise, feminismo e crítica literária. Referências:
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